Lancamento horizontal
(esfera em trilho)

Declarado "encerrado" na manhã de sábado, 24 de fevereiro de 2018.

Neste experimento você vai investigar:

Ao soltarmos uma esfera, a partir do repouso, do alto de um plano inclinado como o ilustrado na Figura 1, o seu centro de massa realiza os seguintes movimentos (desconsiderando o atrito ou outras forças dissipativas):

Figura 1. Superposição do movimento de uma esfera no experimento do lançamento horizontal para três alturas de lançamento.

Em A, a energia potencial gravitacional da esfera, no momento do lançamento, pode ser calculada em relação ao nível da mesa (EP,m) e ao nível do piso (EP,p):

EP,m=mgh Eq. 1
EP,p=mg(H+h) Eq. 2

onde m é a massa da esfera, g a gravidade local, H a distância vertical entre o centro de massa da esfera quando no piso e quando na canaleta sobre a mesa, e h a distância vertical entre este ponto e o centro de massa no ponto de lançamento.

Ao longo do trecho BC sobre a mesa a energia cinética tem duas componentes, a energia cinética de translação (ECT,m) e a energia cinética de rotação (ECR,m):

ECT,m=12mvx2 Eq. 3

energia cinética de rotação:

ECR,m=12Icmωcm2 Eq. 4

onde vx é a velocidade (horizontal) do centro de massa da esfera, Icm=(2/5)mR2 o momento de inércia da esfera maciça de raio R em relação ao centro de massa e ωcm=vx/R é a sua velocidade angular.

Note que ao substituirmos as expressões para Icm e ωcm na equação 4, vemos que as energias cinéticas de translação e rotação têm uma relação fixa:

ECR,m=25ECT,m  

que vale não apenas sobre a mesa, mas em qualquer ponto da trajetória na canaleta (mas não na queda livre).

No trecho BC a conservação da energia leva a:

mgh=12mvx2+12Icmωcm2 Eq. 5

de onde é possível obter a velocidade esperada para o centro de massa ao longo do trecho horizontal da canaleta, incluindo o ponto C:

vx,teo=107gh Eq. 6

Entre C e D a trajetória da esfera é a combinação de um movimento retilíneo uniforme na direção horizontal com um movimento retilíneo uniformemente acelerado na direção vertical. A partir do movimento na direção vertical é possível determinar o tempo de queda tq entre C e D e a componente vertical da velocidade da esfera ao atingir o solo:

H=12gtq2  
tq=2Hg Eq. 7
vy=2gH Eq. 8

onde H é a altura da queda, ou seja, a diferença entre as posições verticais do centro de massa da esfera em C e em D. Em D o balanço total da energia, é, portanto:

mg(h+H)=12mvx2+12mvy2+12Icmωcm2 Eq. 9

A partir do tempo de queda também é possível determinar o valor esperado para o alcance da esfera, isto é, a distância xq,teo=vx,teotq entre o ponto em que deixa a canaleta e o ponto em que atinge o piso:

xq,teo=vx,teotq=107gh2Hg=207Hh Eq. 10

Experimentalmente, entretanto, desejamos obter a velocidade no final da canaleta a partir do alcance da esfera:

vx,exp=xq,exptq Eq. 11

Em resumo: a partir da equação 6 é possível determinar a velocidade esperada para o centro de massa da esfera em C. Utilizando esta velocidade nas equações 3 e 4, é possível determinar a energias cinéticas de translação e rotação esperadas para a esfera no ponto C, bem como a sua energia cinética total ET=ECT+ECR. A equação 10 permite ainda calcular, em função dos parâmetros geométricos do sistema, o valor esperado para o alcance da esfera.

No experimento você vai medir o alcance de esfera para diferentes alturas de lançamento e comparar os resultados experimentais com os valores esperados. A partir do valor experimental para o alcance você vai determinar a velocidade esfera, as energias cinéticas de translação e de rotação desta ao deixar a canaleta e também compará-las com os resultados esperados.

Utilize a barra deslizante para alterar a altura de lançamento. Ao lado da barra, a simulação informa o valor da altura com seu respectivo erro. Clique em "OK" para liberar a esfera. Ao deixar a canaleta, a esfera prosseguirá em queda livre até atingir o piso, e deixará uma marca no ponto de impacto. Refaça o experimento para 5 alturas diferentes. Anote os dados primários, calcule os valores das grandezas solicitadas e compare com os valores esperados (veja tabelas a seguir).

Elabore um relatório contendo:

  1. Um dos objetivos deste experimento é:
    1. medir a aceleração da gravidade
    2. estudar o atrito entre dois corpos
    3. investigar algumas manifestações da energia mecânica
  2. A energia total inicial do sistema NÃO depende:
    1. da altura de lançamento
    2. do comprimento da canaleta
    3. da massa da esfera
  3. Nesse modelo, a energia potencial gravitacional de um objeto:
    1. varia linearmente com a altura
    2. varia quadraticamente com a altura
    3. é inversamente proporcional à altura
  4. A variação da energia potencial gravitacional entre o ponto de lançamento e o ponto de impacto no piso NÃO depende:
    1. da massa da esfera
    2. do raio da esfera
    3. da altura de lançamento
  5. A energia potencial gravitacional de uma esfera de 100 g cujo centro de massa está a 1 m de onde estaria se estivesse no solo, em um ponto da Terra em que a aceleração da gravidade é 10 m/s2 será:
    1. 0,1 J
    2. 1 J
    3. 10 J
  6. Se a esfera da questão anterior for liberada a partir do repouso, sua energia total ao atingir o solo será:
    1. 0,1 J
    2. 1 J
    3. 10 J
  7. A energia cinética de um objeto:
    1. varia linearmente com a velocidade
    2. varia quadraticamente com a velocidade
    3. é inversamente proporcional à velocidade
  8. Se a velocidade de um automóvel de 1000 kg aumenta de 25 km/h para 35 km/h, sua energia cinética varia de cerca de 25 kJ para cerca de:
    1. 35 kJ
    2. 50 kJ
    3. 100 kJ
  9. Se a velocidade de um automóvel de 1000 kg aumenta de 25 km/h para 50 km/h, sua energia cinética varia de cerca de 25 kJ para cerca de:
    1. 35 kJ
    2. 50 kJ
    3. 100 kJ
  10. Ao final da descida da canaleta, a energia cinética de rotação da esfera será:
    1. menor que a sua energia cinética de translação
    2. igual à sua energia cinética de translação
    3. maior que a sua energia cinética de translação
  11. Com relação à velocidade do centro de massa da esfera que desce a canaleta girando, a velocidade do centro de massa de um objeto que desce sem girar e sem atrito seria:
    1. menor
    2. igual
    3. maior
  12. A duração da queda livre da esfera (entre o fim da canaleta sobre a mesa e o piso) depende:
    1. da massa da esfera
    2. da altura da mesa
    3. da inclinação da rampa de lançamento
  13. A componente vertical da velocidade com que a esfera atinge o piso depende:
    1. da massa da esfera
    2. da altura da mesa
    3. da inclinação da rampa de lançamento
  14. O alcance da esfera (ponto em que toca o piso em relação ao ponto em que deixa a canaleta sobre a mesa) depende:
    1. da aceleração da gravidade (o alcance seria o mesmo na Terra ou na Lua)
    2. da massa da esfera (esferas pequenas e grandes teriam o mesmo alcance)
    3. da altura de lançamento (a combinação da altura da mesa e da altura de lançamento da esfera em relação à mesa)
  15. O alcance da esfera (ponto em que toca o piso em relação ao ponto em que deixa a canaleta sobre a mesa) NÃO depende:
    1. da aceleração da gravidade (o alcance seria o mesmo na Terra ou na Lua)
    2. do esfera ser oca ou maciça
    3. da altura de lançamento (a combinação da altura da mesa e da altura de lançamento da esfera em relação à mesa)
  16. Durante a queda livre, idealmente (isto é, desprezando o atrito com o ar), a velocidade de rotação da esfera:
    1. diminui
    2. permanece a mesma
    3. aumenta
  17. Durante a queda livre, idealmente (isto é, desprezando o atrito com o ar), a variação do módulo da velocidade horizontal da esfera
    1. é positiva
    2. é negativa
    3. é nula
  18. Durante a queda livre, idealmente (isto é, desprezando o atrito com o ar), a variação do módulo da velocidade vertical da esfera
    1. é positiva
    2. é negativa
    3. é nula
  19. As componentes horizontais da posição, velocidade e aceleração da esfera (a) descendo a canaleta, (b) percorrendo a canaleta sobre a mesa, (c) em queda livre e (d) rolando no chão, idealmente podem ser descritas como:
    1. (a) MRUV, (b) MRU, (c) MRUV, (d) MRU
    2. (a) MRUV, (b) MRU, (c) MRU, (d) MRU
    3. (a) MRU, (b) MRUV, (c) MRUV, (d) MRU
  20. As componentes verticais da posição, velocidade e aceleração da esfera (a) descendo a canaleta, (b) percorrendo a canaleta sobre a mesa, (c) em queda livre e (d) rolando no chão, idealmente podem ser descritas como:
    1. (a) MRUV, (b) MRU, (c) MRUV, (d) MRU
    2. (a) MRUV, (b) MRU, (c) MRU, (d) MRU
    3. (a) MRU, (b) MRUV, (c) MRUV, (d) MRU


hCM = (0,300 ± 0,005) m
Laltura de queda livre
tqtempo de queda livre
vyvelocidade vertical no instante de impacto com o piso
haltura de lançamento
xqalcance
vxvelocidade horizontal do centro de massa ao deixar a mesa e ao bater no piso
vyvelocidade vertical do centro de massa ao bater no piso
|v|módulo da velocidade no instante de impacto com o piso
EP,menergia potencial gravitacional com relação à mesa
EP,penergia potencial gravitacional com relação ao piso
ECT,menergia cinética de translação
ECR,menergia cinética de rotação
ET,menergia cinética total no final da canaleta sobre a mesa
ET,penergia cinética total no instante de impacto com o piso
ΔE%fração da energia dissipada
Massa da esfera:(0,034 ± 0,001) kg
Raio da esfera:(0,0020 ± 0,0001) m
Altura da mesa:(0,800 ± 0,005) m
h
± 0,005 m
xq
± 0,01 m
xq
± m
h
± 0,005 m
xq
± 0,01 m
xq
± m
h
± 0,005 m
xq
± 0,01 m
xq
± m
h
± 0,005 m
xq
± 0,01 m
xq
± m
h
± 0,005 m
xq
± 0,01 m
xq
± m
 12345
h
xq
vx
vy
|v|
EP,m
EP,p
ECT,m
ECR,m
ET,m
ET,p
ΔE%

A técnica de simulação utilizada neste aplicativo está descrita no artigo do autor citado nas referências. Boa parte do código fonte daquele projeto foi utilizado nesse (o sistema rampa-reta é essencialmente o looping sem o looping propriamente dito).

As coordenadas x e y em função do tempo, para a descida da rampa, são dadas por:

x(t)=rsinϕ+12g(1+k)sinϕcosϕ t2y(t)=H12g(1+k)sin2ϕ t2

onde ϕ é o ângulo de inclinação da rampa, g a aceleração da gravidade, H a altura de lançamento e k o fator associado ao momento de inércia (2/5 no caso de uma esfera maciça). Na simulação foi feita a implementação direta dessas fórmulas.

O trecho de conexão entre a rampa de descida e a reta horizontal sobre a mesa é um arco de círculo. A posição em função do tempo pode é obtida a partir da integração da equação diferencial:

α¨=g(1+k)Rsinα

onde R é o raio do círculo ao qual o segmento pertence e α é a coordenada angular em que a partícula se encontra. Essa equação não é integrável analíticamente e na simulação foi empregado o método de Runge-Kutta de 4a. ordem para a integração.

O movimento sobre o trecho horizontal da canaleta e da queda livre são descritos pelas tradicionais equações do movimento retilíneo uniforme e do movimento retilíneo uniformemente variado.

Os detalhes do que acontece com uma esfera transitando (escorregando + rolando) sobre uma superfície são complexos e profundamente dependentes das características da esfera e da superfíce em que se apoia. A dissipação da energia é devida a fenômenos ligados à rugosidade das superfícies dos objetos, suas elasticidades e à resistência oferecida pela ar (arrasto), todos dependentes da velocidade da esfera. Na simulação, "resumimos" a dependência com as características dos objetos e a resistência do ar a fatores multiplicativos na aceleração que a esfera tem quando desce a canaleta e quando percorre o trecho horizontal, e desprezamos a resistência do ar durante a queda livre. Desse modo, a aceleração durante a descida da rampa é um pouco menor do que a do modelo ideal (a=g/(1+k)×f, onde k=2/5 para uma esfera maciça e f é um número sorteado entre 0,80 e 0,95) e negativa ao londo do trecho horizontal (aleatoriamente escolhida entre −0.09 e −0.11 m/s2). Os valores das flutuações nas acelerações foram escolhidos de modo que os resultados da simulação fossem semelhantes aos resultados do experimento real, em que a dissipação da energia raramente é menor do que 10%, chegando a 50% em certas configurações e equipamentos.

0.2000.3000.4000.5000.200.400.600.80
h1/2 (m​1/2)xmáx (m)

Figura 2. Gráficos do alcance esperado (azul) em um sistema ideal (sem atrito) e do alcance "medido" (vermelho) com a simulação, em função da raiz quadrada da altura de lançamento para 5 alturas (0,50 m, 0,10 m , 0,15 m, 0,20 m e 0,25 m). A reta sobre os valores "medidos" foi obtida com o método dos mínimos quadrados. Para esse conjunto de "dados", a dissipação de energia está em torno de 50% para a menor altura de lançamento e 10% para a maior altura de lançamento, consistente com dados experimentais reais obtidos em laboratório.

O roteiro que serviu de base para o utilizado nesta simulação foi desenvolvido nos idos de 2003 por Nelson Canzian da Silva e Celso Yuji Matuo enquanto professores da disciplina Laboratório de Física I, a primeira disciplina de laboratório cursada pelos estudantes dos cursos de licenciatura e bacharelado em física da Universidade Federal de Santa Catarina.

A dedução das equações de movimento para os vários trechos e uma descrição do esqueleto básico da simulção pode ser encontrado em:

SILVA, N. C da, Looping: solução da lagrangiana, simulação computacional e estratégias didáticas, Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 32, n. 3, p. 963-987, dez. 2015. 963 (DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7941.2015v32n3p963).

Uma dedução alternativa das equações de parte do problema utilizando uma abordagem mais tradicional pode ser encontrada em:

FITZPATRICK, R., Combined translational and rotational motion, in: Classical Mechanics, an introductory course, http://farside.ph.utexas.edu/teaching/301/lectures/node108.html. Acessado em 22/02/2018.

Para os mais curiosos a respeito dos fenômenos que intervêm no movimento de esferas rolando, existem vários recursos facilmente acessíveis na internet:

WIKIPEDIA CONTRIBUTORS, Rolling resistance, Wikipedia, The Free Encyclopedia, 8 Feb. 2018, https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Rolling_resistance&oldid=824629931 Acessado em 22/02/2018.

STACK EXCHANGE INC., "What role does static friction force play for a rolling object? How can I know what direction it points?", https://physics.stackexchange.com/questions/158817/what-role-does-static-friction-force-play-for-a-rolling-object-how-can-i-know-w. Acessado em 22/02/2018.

ROJA, R., SIMON, M., Like a rolling ball, http://robocup.mi.fu-berlin.de/buch/rolling.pdf. Acessado em 22/02/2018.

CROSS, R. Effects of surface roughness on rolling friction, publicado originalmene no European Journal of Physics, Nov. 2015. Carregado em https://www.researchgate.net/publication/281666081_Effects_of_surface_roughness_on_rolling_friction em Jun. 2017. Acessado em 22/02/2018.

GOOHPATTADER P. S., METTU, S., CHAUDHURY, M. K., Rolling motion of a rigid sphere on a structured rubber substrate aided by a random noise and an external bias, https://arxiv.org/ftp/arxiv/papers/1108/1108.0915.pdf